O operário
Os prédios prendidos no chão,
Erguidos com massa e concreto.
Arranham os céus que pela mão,
Se ergueram como decreto.
Firmando no céu e no torrão,
Sua marca, seu não, seu credo.
Gritando em meio a multidão
O que se grita num mundo incerto.
A incerteza da verdade,
A verdade incerta.
a vida entregue a banalidade,
Nesse concreto de cor decerta.
O suor que nas vistas arde,
Limpado com o braço na testa.
Trabalhando até mais tarde
No prédio de construção ereta.
O operário operando o que se constrói,
Enquanto o que o opera seu sonho destrói.
Se vendo longe da paz verdadeira,
Tendo em mente a vista derradeira.
O pôr-do-sol metálico
Em seu corpo feito chapa.
Na calçada de vermelho trágico,
Estende-se o seu pouco feito em papa.
Tingindo o frenesi louco,
Da indignação que nos basta.
E depois como memória, num sopro,
Tudo isso que se viveu, se acaba.