NÓS QUE AQUI ESTAMOS POR VÓS ESPERAMOS
Os deuses mortos reunidos
na sala de jantar
tomam a sopa da tarde
em seus velhos pratos de porcelana.
Conversam sobre glórias
de um passado distante
e tremem quando descrevem
os titãs há muito derrotados.
Depois da sopa, se arrastam
até a sala e se jogam
nos sofás e nas poltronas
e, ainda rindo, descrevem
os palácios de outrora.
Falam das humanas
por eles raptadas.
Um diz que serpenteava
por entre árvores e seduzia
as moças que, nuas, se banhavam
em lagos e em rios.
Outro confessa a brutalidade
com que estuprava as donzelas
dos reinos infiéis.
Todos dizem que eram fortes,
mas eram justos
e, com destemor, esmagavam
os sonhos de seus inimigos.
Eles eram fazedores de viúvas,
eram cangaceiros sem alma,
eram guerreiros intimoratos
e, diante deles, os inimigos
tremiam e choravam e se urinavam.
A noite vem e traz o sono:
os deuses mortos começam
a falar de fantasmas insepultos
e cochilam.
Logo são conduzidos
até seus catres
e, enrolados em fétidos panos,
começam a chorar de medo
e de uma avassaladora vergonha.
Os deuses mortos não dormem,
não conseguem.
De olhos abertos, atravessam
a longa madrugada
e só sossegam quando escutam
o grito do padeiro na rua,
anunciando que o pão francês
nunca esteve tão quentinho.
Os deuses mortos reunidos
na sala de jantar
tomam a sopa da tarde
em seus velhos pratos de porcelana.
Conversam sobre glórias
de um passado distante
e tremem quando descrevem
os titãs há muito derrotados.
Depois da sopa, se arrastam
até a sala e se jogam
nos sofás e nas poltronas
e, ainda rindo, descrevem
os palácios de outrora.
Falam das humanas
por eles raptadas.
Um diz que serpenteava
por entre árvores e seduzia
as moças que, nuas, se banhavam
em lagos e em rios.
Outro confessa a brutalidade
com que estuprava as donzelas
dos reinos infiéis.
Todos dizem que eram fortes,
mas eram justos
e, com destemor, esmagavam
os sonhos de seus inimigos.
Eles eram fazedores de viúvas,
eram cangaceiros sem alma,
eram guerreiros intimoratos
e, diante deles, os inimigos
tremiam e choravam e se urinavam.
A noite vem e traz o sono:
os deuses mortos começam
a falar de fantasmas insepultos
e cochilam.
Logo são conduzidos
até seus catres
e, enrolados em fétidos panos,
começam a chorar de medo
e de uma avassaladora vergonha.
Os deuses mortos não dormem,
não conseguem.
De olhos abertos, atravessam
a longa madrugada
e só sossegam quando escutam
o grito do padeiro na rua,
anunciando que o pão francês
nunca esteve tão quentinho.