Homo Ruminantia
Nunca visitei uma casa com uma cabeça de alce na parede.
Em todas as casas que já fui só vi humanos empalhados.
Pote de sobras da humanidade em conserva,
em cada rua há cem museus do que ainda chamam de família,
de humanos, só o cálcio e as proteínas.
Um taxidermista cúbico na sala de jantar,
sangue humano nas cortinas,
entranhas pelos estofados,
taças com formol e tigelas com serragem.
Cérebro enlatado como pêssego em calda,
sociedade etiquetada como prateleiras de pêssegos em calda,
informação como indústria de pêssegos.
Ninguém mais brinca de humanismo,
cada um parece gostar de ser vaca
todos eles bois e vacas,
amigáveis com os tiros de espingarda
que os empurram pro cercado,
cada um com seus dois metros quadrados de pasto,
elaborando consentimentos individuais,
e quando saem pra mugirem com outros bovinos,
reproduzem as porcarias que aprenderam
do mesmo modo que ruminam o capim.
Sentem-se felizes com o travesseiro que os asfixia,
felicidade o suficiente para arrancarem as córneas
e utilizarem seu intestino como a própria forca.