SOBRE O CAMPO DAS SOMBRAS

Eu descia com a caneca de plástico verde alface

Para a ceia das vinte e uma horas

E tinha que passar, assim como todos que ali estavam,

Pela trilha ao lado do campo das quarenta voltas

O campo das quarenta voltas

Às vezes o vejo de longe

Chego pensar em ir até lá

Esticar as mãos e tocar a grama

Mas prefiro não chegar perto

Prefiro não chegar

Atrás da baliza leste tinha uma árvore

Uma árvore que era testemunha,

Que via o dia e via a noite,

E no tronco da árvore havia alguns desenhos

Feitos à canivete ou à baioneta

Eu mesmo fiz um desenho uma vez

Um foguete à caminho da lua

Será que eu acreditava em

Foguetes na lua?

Será que eu ainda acredito?

Eu passava pela trilha

Ao lado do campo das quarenta voltas

E sempre me perguntava

Se aquele silêncio e aquela paz eram verdadeiros

Se realmente existiam

Às vezes havia lua

Às vezes havia algumas estrelas

Umas poucas estrelas

Às vezes havia nuvens