Mendigo Moribundo
Com a caneta na mão, estou à procura de inspiração
Não ouço nada além de minha respiração apesar de estar sentado na praça
Aproveito o pouco que ainda é de graça enquanto escrevo o que penso respirando fumaça
A praça está vazia e a rua está lotada
Carros a procura de vaga e pessoas por toda a calçada
Ninguém nota a vida ao redor, todos parecem viver de maneira apressada
Eu não. Eu permaneço sentado, escrevendo em papel amassado,
Observando a vida por todos os lados,
Esperando por alguns trocados e pela cura do meu pé machucado
Respiro.
Olho para o céu e me espanto com o que vejo pousar sobre o fio
Um pássaro azul, raro de ver nessa região do Brasil
Lamentável perceber que eu sou o único que o viu
E de súbito ele voa, sem saber que arrancou um sorriso de um morador de rua
Se alguém me ver, vai achar que estou à toa e que vivo no mundo da lua
Mas não
Na verdade minha realidade é mais real do que a sua
Que faz o que não gosta o tempo inteiro, para viver em função do dinheiro e, nunca viu uma ave azul livre de um viveiro
Aprendeu sobre a vida na escola, agora vive o domínio do dólar e não percebeu que nunca saiu da gaiola, exatamente como eu
Escrevo para me sentir libertado, o que provavelmente é o equivalente ao canto de um pássaro engaiolado
E assim vivemos, coadunados, buscando por escapatórias
Enquanto uns encontram a fuga no esporte, outros encontram nas drogas
O meu caminho foi a arte e eu gosto de contar histórias
Sem patrocínio, todas elas estão guardadas em minha memória
Esta, em forma de poesia, escrevo e deixo à mercê da sorte a sua trajetória
Espero que alguém a encontre e, para essa pessoa, é de coração minha dedicatória
Desejo que escape de sua rotina, que consiga esquecer das horas e, que possa usar de alguma maneira suas asas
Se conseguir se inspirar em meus versos, para mim isso será uma vitória
E assim, este moribundo que vos fala poderá finalmente, em paz, ir embora
Para sua verdadeira casa.