A seca
Hoje, como todo dia,
acordar é o pior dos instantes
e o meu único instinto.
Não porque eu deseje a noite,
é que me apavora o dia.
Minha primeira refeição do dia é meu silêncio.
Conivente.
Encostado.
Triste.
É quando o bolor dos meus olhos
pressente o barulho do sol
rachando meu sangue
e benzendo minha alma.
A noite que cai
ameniza o castigo
e me rouba um sorriso:
eu sobrevivi.
Mas dormente em sentidos;
pra que sentimentos
se meu desespero é o que me faz viva.
Hoje, como todo dia,
é céu de estiagem
apagando paisagem
e secando o caminho.
Na noite cansada
o conforto de um cio
e a vontade do embora.
Ser escrava na cidade grande
ou desistir da vida
e ser paisagem que o sertão esconde.