APOLOGIA DO LAZER
Apologia do Lazer
autor: j.r.filho
Nas incertezas da vida
O tempo passa depressa
Enquanto cuido da lida
Míngua o que nos interessa.
Na faina, no trabalho,
Se extingue a mocidade
Como cartas de baralho
Gastas pela nulidade.
Nunca fiz apologia
Do vício de trabalhar...
Adoro a filosofia
Que nos ensina a pensar.
Pensar no que é bom gente,
Nunca para o explorador!
Trabalho só faz contente
Quem sempre nos explorou.
O lema do dominante
Diz que o trabalho enobrece,
Mas ele fica distante
Trabalho não lhe apetece.
Foi assim em toda história
Ele nunca vai mudar
Viveu coberto de glória
Sem precisar trabalhar.
Assim, nos educandários,
Há um lema como meta
Dizendo para os otários
Que o lazer a moral veta.
É fácil compreender
Esse gesto do patrão
Pagando pra poder ver
Nenhuma transformação.
Por isso estou escrevendo
Na hora de trabalhar,
Ao patrão fico devendo?
Há subversão no ar?
Numa análise derradeira
Das nuances da labuta
Vê-se que a mais verdadeira
É inspirada na luta.
Na luta pela existência
Ao sabor da tirania
Num rasgo de resistência
Suportando a “mais valia”.
Feira de Santana, 27 de novembro de 1984.
Extraída do meu livro: O Homem, o Tempo e a Poesia.