VAQUINHA MANSA

...e este curral tem fortes trancas, mas a presa indômita, selvagem potranca, ou vaquinha mansa, ou moça-criança, um dia se ergue nas patas, ou sobe às tamancas e a tudo arranca, quando mais nada há a perder. O corpo em rebeldia se agiganta e rompe as grades de sua prisão...

Ela se mandou desgovernada

e não quis ouvir nenhum conselho,

nem se submeteu ao relho.

E o velho que a queria escrava pra seu desfrute,

ficou gritando com o laço na mão,

a correr patético pelo campo afora.

E agora, quem irá alimentar sua ganância

e seu desejo mórbido?

Este velho safado, encarniçado,

"vá tomar leite de seringueira!"

e, se duvidar, vai agora mesmo

outra bobinha engambelar,

pegar pra criar, dar casa e comida

em troca de tudo,

em troca de carne e sangue, leite fresco!

Oh velho safado, endemoniado,

constrói suas cercas de lodo e de fel,

se esconde nos estábulos e come pão dormido

e roga praga aos ventos e às flores,

eta esses senhores de sanha guardada

em cofres lacrados,baús recheados de ouro e solidão.

Vai-te com teus demônios que essa vaquinha não te pertence mais,

já não pasta na tua mão, seu ladrão!

Que esta que se foi abanando em preto e branco de pêlo macio,

agora estará pelos campos

liberta e cheia de vida,

bem longe dos teus domínios.

Babe agora, velho babão!

Vá se ferrar, seu Elesbão!

tania orsi vargas
Enviado por tania orsi vargas em 15/06/2007
Reeditado em 11/03/2008
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