O CÂNCER

Ninguém imaginava a ansiedade que ele sentia,

Olhava o relógio e percebia que as horas insistiam em não passar.

O câncer que estava escondido,

Agora parecia tomar forma.

Preferia que tudo explodisse de uma vez

Ao invés de sentir a dor que certamente iria sentir

A dor

A dor

O horror

Nunca conseguiu entender porque sempre o mesmo destino,

Não importava para que país fosse,

Sempre escolhia a mesma sina.

O atlas geográfico escolar foi aberto na sala de aula,

Folheado por alguns minutos,

E logo depois rasgado por ter ousado parar na página errada.

As minas de carvão

A estrada de ferro

A hora de olhar para o céu que nos protege

As facas que cortam nossas gargantas na hora do almoço

O tempo frio

As roupas enfileiradas

E o olhar parado,

Olhando o horizonte em vão,

Debaixo de sol, debaixo de chuva.