E assim é
Eu já comi minha vizinha.
Eu já comi minha prima.
Eu já comi minha cunhada.
Eu já comi empregada.
Eu já estuprei minha consciência...
Eu já vomitei na sarjeta.
Eu já caprichei na gorjeta.
Gozei dentro sem camisinha.
Eu já mamei fartas tetas -
Minha abençoada mãezinha,
(Não fiz jus a ela...
Eu sou um porco...)
Que ora agradecida
Pelo meu nascimento.
Eu jogo sujo pra espalhar minhas verdades.
Eu jogo sujo para estar em evidência.
Eu cabulei muita aula,
Eu só colava nas provas.
Pra ganhar princesa fazia trova.
Pra garantir o ganha-pão
Eu lavo muito dinheiro.
Conheço um pouco de direito.
Desconheço a derrota.
Ignoro meu egoísmo.
Muitos me têm como santo,
Quando na verdade sou deus.
Sou dos meus.
Sou sozinho com muitos aliados.
Sou amigo dos alienados.
Eu sou fonte de renda.
Eu sou ombro amigo.
Dou bons conselhos
Pra quem se abre comigo.
Eu conto mansas verdades.
Eu acalmo corações.
Eu enveneno ânimos.
Eu destruo sonhos.
Eu construo castelos.
Firmam-se elos.
Cresce meu império.
Sou sorrisos, sou abraços,
Desato-me em beijos.
Desfaço laços...
Lençóis de seda...
Champanhe no gelo...
Mãos ao alto na parede...
Jorram jatos espumantes.
Tim-tim...
Encho sua meia taça e bebo seu corpo.
Você bebe na boca da garrafa,
Eu cedo.
Eu acendo a lareira e nela te jogo.
Não deixo rastros.
Não ficam provas.
Fumaça nobre.
Cheiro suave.
Não me esquecerei do tempero.
Depois do sono estarei mais inteiro.
Serei mais de mim,
Serei mais deus.
O dos meus.
E é assim.