AINDA EXISTEM SALAS ESCURAS

Às vezes olho o copo em cima do balcão

E vejo as caminhadas que era obrigado a fazer olhando todos os lados

Ainda encontro vestígios daqueles dias

Ainda encontro marcas da terra que engoliu o meu corpo.

O relógio ficava no lado direito da entrada

No meu lado esquerdo eu colocava minhas anotações

Eu acreditava nelas sem imaginar que se perderiam

Mesmo depois do abraço ao redor da lagoa

Mesmo depois da luta para se livrar dos riscos no corpo

E das sequelas, sempre imortais.

Mesmo depois dos gritos de euforia após tanto tempo de silêncio

Na praça onde os muros foram derrubados ao lado de amigos que nunca mais veria.

Nunca gostei de telefone

Deixava tocar, tocar, até a ligação cair

Quando subi o morro encontrei a palavra

A jaqueta que eu usava era jeans

A calça e a camisa por baixo da jaqueta também

Mas são tantas palavras, que ficaram embaçadas,

Procurei meus óculos

Mas havia esquecido em casa.

Ainda tenho o copo e os bares

Ainda tenho corpo

E ainda encontro os vestígios.