Eu não me calo
Vontade de gritar já não falta
De soltar o cabelo, nem me fale
To andando com receio, de ser abordado.
Por um fardado, que não sabe aonde esconder seu despreparo.
Na calçada que piso, tenho medo que ela se quebre.
Meus pés pesam uma tonelada, meu corpo nem aguenta tanta indiferença do estado
Com seu braço armado, bala perdida sempre encontra seu endereço.
Com sua bota de borracha, que estoura no peito de quem não se omite
Se a bandeira lá em cima chama a atenção, eu não sei te dizer.
Sei que a bandeira que me corpo representa, grita por mim.
Carrega ideologias de um ser utópico
Eu sempre digo em voz alta, para que todos possam ouvir.
Eu não me omito, não me entrego, cara a tapa e o que espero.
Sem chinelo, com os pés descalços, sinto a terra entre meus dedos.
Com meu black para o alto, não aceito imposição, sou barrado, mas não calado
Cansei do silencio, que traz angustia, de quem tem anseio por gritos.
Eu não me esqueço do Eduardo, nem do Amarildo, nem de tantos outros
Que foram executados, Pena de morte? Só existe para negro e pobre!
Corpo visto como publico, querem tirar fotos, tocarem o que acham diferente.
Eu não aceito, não me dobro, não toquem no meu corpo.
Contra parede, arma carregada, apontada, disparada.
Calçada riscada de giz, muros pichados de sangue derramado.
Palavras que gritam e saltam dos prédios, que já foram pintados de tanto serem pichados.
A voz do oprimido se abriga em paredes de concreto, silenciada por tintas brancas.
Eu resisto na subsistência de um ser que não se cala.