Miséria
Haverá o dia em que a verdade será revelada,
Comemo-nos a nós mesmos.
Depois haverá o dia da miséria suprema,
Nós fomos completamente comidos.
E, por fim, num ato de desespero,
Comemo-nos uns aos outros.
Esperma é o nosso leite,
O sangue o nosso vinho.
E, mesmo assim,
Eu amo-te.
A nossa fisiologia é o nosso sustento,
O nosso corpo é o nosso alimento.
E até sermos completamente drenados,
Não haverá fome no mundo.
Amanhã sairemos à rua
Desprovidos de repulsos ou nojo de nós mesmos,
Assim como Adão e Eva,
Tal como vieram ao mundo.
Se o futuro brilha, mais vale segui-lo.
O Messias crucificado lá no alto,
Encostou a cabeça aos seus ombros,
Num ato de redenção.
Nós, hoje, ajoelhados diante dele,
Cabisbaixos e sem dignidade,
Num ato de covardia.
Nós nascemos pobres.
Nós morremos pobres.
Porque nós somos a miséria.