Miséria

Haverá o dia em que a verdade será revelada,

Comemo-nos a nós mesmos.

Depois haverá o dia da miséria suprema,

Nós fomos completamente comidos.

E, por fim, num ato de desespero,

Comemo-nos uns aos outros.

Esperma é o nosso leite,

O sangue o nosso vinho.

E, mesmo assim,

Eu amo-te.

A nossa fisiologia é o nosso sustento,

O nosso corpo é o nosso alimento.

E até sermos completamente drenados,

Não haverá fome no mundo.

Amanhã sairemos à rua

Desprovidos de repulsos ou nojo de nós mesmos,

Assim como Adão e Eva,

Tal como vieram ao mundo.

Se o futuro brilha, mais vale segui-lo.

O Messias crucificado lá no alto,

Encostou a cabeça aos seus ombros,

Num ato de redenção.

Nós, hoje, ajoelhados diante dele,

Cabisbaixos e sem dignidade,

Num ato de covardia.

Nós nascemos pobres.

Nós morremos pobres.

Porque nós somos a miséria.

Sérgio Peixoto
Enviado por Sérgio Peixoto em 08/05/2015
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