A ÚLTIMA MULTIDÃO
A sociedade está enterrando seus filhos feios
sepultando no escuro as almas rebeldes
trazendo sede e fome nos olhos e mentes
que não são saciadas com a chuva
e nem supridas pelos mais suntuosos banquetes.
alguns espíritos inveterados
buscam asilo numa auto-estima voraz
que é bem mais superestimada
que sua própria fome de tudo.
Alguns lutadores perdem sua causa
homens nutridos de crítica e criatividade
correm das balas e torpedos
as páginas da liberdade
rubras e relegadas ao chão.
A última multidão peregrina
em busca do verdadeiro oxigênio
uns encontram-se enfim,quando a morte já os beija
outros assumem bonecos de cera
e pensam ter encontrado a real felicidade.
A última multidão congela,você se senta pra assistir
enquanto os malotes de dólar roubam sua alma
e homens de preto sacrificam meninos pretos
e corações radioativos expelem lama radioativa
comunidades queimando nos morros
enquanto o mar calmo e Ipanema aparecem como num sonho.
A última das multidões que grita
se encolhe agora perante a um deus de logotipos
Marx parece ter sido um guru de idiotas
a vida não ensina,a morte é ignorância
há agora a esperança do último filete de água
na cama de cinzas dos nossos quartos abafados.
Uma porção de desordeiros fumam
desafiando o câncer
pagando caro
chutando o partido bem no meio das pernas;
mas mais um homem é castrado
pelas regras do 3° departamento
a 8 entre a 40 e a 50
casa 812-A
alguém desistindo
alguém deserdando a multidão
enquanto esta se desfaz
nos vapores cosméticos químicos
de nossa velhíssima recente amargura.