A ÚLTIMA MULTIDÃO

A sociedade está enterrando seus filhos feios

sepultando no escuro as almas rebeldes

trazendo sede e fome nos olhos e mentes

que não são saciadas com a chuva

e nem supridas pelos mais suntuosos banquetes.

alguns espíritos inveterados

buscam asilo numa auto-estima voraz

que é bem mais superestimada

que sua própria fome de tudo.

Alguns lutadores perdem sua causa

homens nutridos de crítica e criatividade

correm das balas e torpedos

as páginas da liberdade

rubras e relegadas ao chão.

A última multidão peregrina

em busca do verdadeiro oxigênio

uns encontram-se enfim,quando a morte já os beija

outros assumem bonecos de cera

e pensam ter encontrado a real felicidade.

A última multidão congela,você se senta pra assistir

enquanto os malotes de dólar roubam sua alma

e homens de preto sacrificam meninos pretos

e corações radioativos expelem lama radioativa

comunidades queimando nos morros

enquanto o mar calmo e Ipanema aparecem como num sonho.

A última das multidões que grita

se encolhe agora perante a um deus de logotipos

Marx parece ter sido um guru de idiotas

a vida não ensina,a morte é ignorância

há agora a esperança do último filete de água

na cama de cinzas dos nossos quartos abafados.

Uma porção de desordeiros fumam

desafiando o câncer

pagando caro

chutando o partido bem no meio das pernas;

mas mais um homem é castrado

pelas regras do 3° departamento

a 8 entre a 40 e a 50

casa 812-A

alguém desistindo

alguém deserdando a multidão

enquanto esta se desfaz

nos vapores cosméticos químicos

de nossa velhíssima recente amargura.

FDG ribeiro
Enviado por FDG ribeiro em 05/05/2015
Código do texto: T5231328
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