O DIREITO DE MILHÕES - PARA HILDEGARD ANGEL
(À colunista do Jornal O Globo, Hildegard Angel)
Eu aceito você se incomodar
Se tiver que viver junto de um pobre,
Pois você sempre teve vida nobre
E não quer com um pobre se juntar.
Mas não queira com isso me tirar
O direito de amar minha pobreza,
Pois a praia que Deus fez com grandeza
Não foi feita exclusiva pra ser sua
Você pode se achar dona da rua,
Mas seu ouro não compra a natureza.
Não aceito essa sua afirmação
Tão covarde, mesquinha e perigosa;
Posso até lhe chamar de mentirosa,
Porque nem todo pobre é um ladrão.
Nenhum pobre utiliza o mensalão,
Nem faz parte de anões do orçamento,
Não fatura nas obras com aumento
Pra roubar o dinheiro do país,
Essa sua agressão tão infeliz,
Deveria ir pra uns do parlamento.
Se tem nobres e donos do dinheiro,
Nessa Zona do Sul que é muito rica,
Também saiba que aí é onde fica
O político ladrão e trambiqueiro.
Pra você me chamar de desordeiro
Afirmando que estou nos arrastões,
É preciso lembrar que há mil ladrões
Nessa classe, na qual você se aloja,
E esse seu argumento, que me enoja,
É menor que o direito de milhões!