Culpado

Sou da raça humana.

Fui criado no princípio.

Sou amante da história

Se desdobrando em milhares.

Inúmeras gerações indo e vindo,

Através do espaço e do tempo.

Sinto-me acima das bandeiras.

Ignoro a pátria.

Sou individualista.

Estrangulo minha dignidade.

Fecho os olhos para não enxergar.

Me calo e dou o meu consentimento a tudo.

Mato minha consciência fatigada,

Ela não é necessária no mundo estático.

Onde eu e todos somos cobaias do sistema,

Escravos da TV.

Presos na teia do poder e do conformismo.

Sou bajulador dos chefes.

Obedeço a hierarquia do poder.

Sujeito-me a espectador alienado.

Bato palma da minha humilhação.

Sou um revolucionário sem revolução.

Transformo tudo no mesmo nada.

Mudo de lugar e reconheço tudo igual.

Aprendo a caminhar, mais logo me convenço

Que preciso de ajuda e me dou para ser guiado.

Aprendo a relinchar.

Recebo o meu arrego

E espero alguém montar em mim.

Sou presa fácil.

Me deixo influenciar.

Aplaudo a comédia.

Participo do circo.

Necessito de pão.

Porém, ele vem dividido em dois ou três

E assim permaneço com fome.

Sou escravo do dinheiro.

Sou um cidadão sem cidadania.

Sou um consumidor passivo de um veneno letal.

Fui picado pela ignorância

E tomo minha dose diária de silêncio.

Reprimo o utópico.

Ridicularizo o revolucionário verdadeiro,

Mas eu sou o mais desonrado,

Por sujeitar-me a mais grotesca condição:

Escravo de mim mesmo.

Sou o maior culpado da mutilação do mundo.

Belinda Oliver
Enviado por Belinda Oliver em 22/03/2015
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