Culpado
Sou da raça humana.
Fui criado no princípio.
Sou amante da história
Se desdobrando em milhares.
Inúmeras gerações indo e vindo,
Através do espaço e do tempo.
Sinto-me acima das bandeiras.
Ignoro a pátria.
Sou individualista.
Estrangulo minha dignidade.
Fecho os olhos para não enxergar.
Me calo e dou o meu consentimento a tudo.
Mato minha consciência fatigada,
Ela não é necessária no mundo estático.
Onde eu e todos somos cobaias do sistema,
Escravos da TV.
Presos na teia do poder e do conformismo.
Sou bajulador dos chefes.
Obedeço a hierarquia do poder.
Sujeito-me a espectador alienado.
Bato palma da minha humilhação.
Sou um revolucionário sem revolução.
Transformo tudo no mesmo nada.
Mudo de lugar e reconheço tudo igual.
Aprendo a caminhar, mais logo me convenço
Que preciso de ajuda e me dou para ser guiado.
Aprendo a relinchar.
Recebo o meu arrego
E espero alguém montar em mim.
Sou presa fácil.
Me deixo influenciar.
Aplaudo a comédia.
Participo do circo.
Necessito de pão.
Porém, ele vem dividido em dois ou três
E assim permaneço com fome.
Sou escravo do dinheiro.
Sou um cidadão sem cidadania.
Sou um consumidor passivo de um veneno letal.
Fui picado pela ignorância
E tomo minha dose diária de silêncio.
Reprimo o utópico.
Ridicularizo o revolucionário verdadeiro,
Mas eu sou o mais desonrado,
Por sujeitar-me a mais grotesca condição:
Escravo de mim mesmo.
Sou o maior culpado da mutilação do mundo.