MARIA

Para Carolina Maria de Jesus

Eis tua cava,

Tua reengenharia.

No quarto mais oitavo da casa grande.

Para júbilo dos teus donos

Tua cova.

Mulher negra domesticada,

Teu sacramento é a tua tala,

Mãe das favelas do Brasil.

O pai é Getúlio ou JK,

Tuas contas, teu sabão

Oh! Carla.

Vá parir em outro lugar as gerações.

Se não fores de nação,

Mas livre de cor ou alforriada,

Vacinada e não – portadora

De doenças contagiosas

Poderás ser aluna de Pretextato,

O tribuno consular africano.

Ombreiam em tua fala, na nossa sala,

As letras oriundas

Do teu lápis preto N° 2.

Publicado em Cadernos Negros 33

Quilombhoje - São Paulo - 2010

Página 103

Luís Aseokaynha
Enviado por Luís Aseokaynha em 21/03/2015
Reeditado em 16/11/2018
Código do texto: T5177629
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