MARIA
Para Carolina Maria de Jesus
Eis tua cava,
Tua reengenharia.
No quarto mais oitavo da casa grande.
Para júbilo dos teus donos
Tua cova.
Mulher negra domesticada,
Teu sacramento é a tua tala,
Mãe das favelas do Brasil.
O pai é Getúlio ou JK,
Tuas contas, teu sabão
Oh! Carla.
Vá parir em outro lugar as gerações.
Se não fores de nação,
Mas livre de cor ou alforriada,
Vacinada e não – portadora
De doenças contagiosas
Poderás ser aluna de Pretextato,
O tribuno consular africano.
Ombreiam em tua fala, na nossa sala,
As letras oriundas
Do teu lápis preto N° 2.
Publicado em Cadernos Negros 33
Quilombhoje - São Paulo - 2010
Página 103