No Bar Molhado
Por aqui pelo Bar Molhado,
o céu é hoje um imenso
guarda-sol azul e branco
e a embocadura do Cajueiro
um funil líquido
na enchente
-- águas da baía
abraçadas pela ciliar mata
de mangueiros,
centenas de elevados
tentáculos contorcidos e enraizados
num tijuco cinza-cobre.
E nós dois aqui,
sem Johnny Alf,
mas com sua brisa soprando
cálida-fria, que,
em forte continuum eólico,
num átimo, em vórtice converte
em piso para nós as altas nuvens,
para contemplarmos
com olhos de garças e gaivotas
a peça encenada pela vida,
neste singular momento-luz.
Os pô- pô- pôs, na maré favorável,
desfilam lá embaixo em fluxo contínuo
pela passarela pardacenta
em veloz ir-e-vir
do comércio do pescado...
A luz rasga o ventre do céu
--o guarda-sol azul e branco--
, e uma fenda esculpida no tempo,
tal qual um mágico zíper,
se entre-abre, de relance:
em meio a uma fina névoa se dissipando,
a cena histórica se descortina:
Sim, a paragem é a mesma,
só que à esquerda
da embocadura do Cajueiro.
E Guaiy vai terminando de recolher
os peixes da camboa...
O céu, visto dali, rumo ao Carananduba,
denuncia que o dia estava
acordando, com sua suave claridade
e com as baças cores características,
despertando a natureza, preguiçosamente.
As aves, em revoadas festivas
aqui e ali... por todo lugar.
Sobre a cabeça de Guaiy
gritantes papagaios disparam
como flechas pelo ar, em busca,
certamente, de alguns pés de ingá.
O destino é, trilhando o mangue,
chegar aos companheiros da tapagem
do igarapé lá do Carananduba.
Então, ribomba com um pedaço de pau
a sapopema de uma corticeira.
Espera. Ouve a resposta companheira.
Parte na direção dela. Há boatos...
Os invasores de pele clara já chegaram...
O início do abismo sem fim chegou com eles...