Como conseguir partir?...

De folha em folha,

flor em flor,

em cada gota de orvalho

(em seu frescor),

por entre os insetos,

vago dia a dia...

Vejo e noto

indiferentemente

cada pequeno ser

se movendo

sobre a Terra

--e sob ela--,

no meio da folhagem,

no húmus,

nas árvores,

no Céu,

nos rios...

As nuvens

cobrem e descobrem o Sol.

Suas sombras caminham

e percebo-as

sob o azul,

assim como as gotas que caem

com suavidade

ou violência

sobre esta floresta,

enfatizando ainda mais

a cor de sua clorofila...

A faixa clara

da arenosa orla

se estica

por todo o litoral

do norte da Ilha...

E vestidos requintados

agitam-se ao vento

de mãos dadas

às bengalas e cartolas,

chegando nos vapores.

A distinção passa

a povoar estas plagas,

e meu povo

começa a partir,

não sem lutar...

Os tempos são outros

nestas atuais manhãs...

E muitas e muitas luas

navegaram

pelo negrume noturno,

tendo por testemunhas

todos os olhinhos

faiscantes de nossos

curumins e cunhantãs,

espoliados das famílias

e conduzidos lá para cima.

Todos os dias vago por aí,

sem rumor e quase sem rumo.

Não sei por quê, mas, por agora,

ainda não sou capaz de partir...