A herança do camponês
Vai verão, vem inverno
em turma alternam turnos
e se perdem na praça das suas caças
mas a fome nunca sai do turno!
O verde das machambas aquece com secas
E esfria com as cheias
O aço da minha enxada enfraquece
Tornando me num vencido que assiste vermes de miséria preenchendo celeiros!
“Coitada de te mãe Inês
Que de filho só tem camponês
E não tens como escapar da velhice
Que ousa degradar o seu corpo sucatado e impelido do descanso
Pois, ate a morte lhe nega ceder o privilégio!...”
Dizia o eu numa dessas manhas desgrudando num alto estilo no meio de uma alegria suspirada na minha desgraça
Uma das poucas massarocas que a época da colheita me deu
Enquanto meus lábios secos passeavam meu semblante real pela aldeia.
O meu estômago vazio
Construíra com suas mãos desesperadas e impotênciadas de milagres
Teias de negociação com a fome
Desenhando com as suas lágrimas derramadas
Decretos na tentativa de melhorar a relação
E estrumar o renascer do batom verde que cativa sorriso nos lábios.
Forçadamente e indesejadamente divorciei-me da velha vida
E renasci em novos rebanhos retocando novas ovelhas
Conventos da minha santidade evaporaram com a idade
E a terra se quebrou por debaixo dos meus pés
Dobrando apagadamente as minhas pegadas
Na fúria do oceano formado pelo meu legítimo sangue.
Nasci do camponês
Também sou camponês
E só o posso ser no campo
Não sei quanto tempo ainda irei durar
Mas aqui eu nasci para ficar
Por mais que me fustiguem calamidades e me envelheça a idade
Aqui eu vim para ficar
Seja qual for a minha finalidade
Estarei a usufruir dos frutos brotados da minha herança!...