O MORRO E A BAIXADA
O lugar que eu moro é no morro,
Eu não quero morrer no morro.
A água não sobe o morro
E a chuva tira do morro o forro.
A polícia não vai no morro,
Mas se tiver batida eu corro.
Lá no morro não tem herói;
O herói do morro não é o Zorro.
Lá no morro tem gente boa,
Na baixada tem gente à toa.
É do morro que se ver o barco,
E o barco chega através da proa.
Lá no morro tem gente que samba.
No samba tem gente bamba.
Lá no morro a gente corre,
Na baixada tem gente que anda.
O artista mudou do morro;
O artista não vai no morro.
Mas o morro é que tem que descer
E ainda tem que pagar pra ver...
Lá no morro se produz o lixo,
E na baixada sustenta o vício.
Na baixada faz oferenda
E lá no morro se faz feitiço.
O candidato sobe no morro.
O elegido não vai no morro.
O candidato pede seu voto,
O morro grita, pede socorro.
Na baixada se usa canudo,
Tem teatro e engana bobo.
A cobertura do arranha céu
Faz nível com o chão do morro.
A baixada é a base do morro
Se o morro cai... Tudo desanda!
Na baixada se vende marca
E lá no morro se vende muamba.
Mas o Cristo subiu no morro
Pra falar para a multidão,
E mostrou que era do morro
Ficando ao lado de um ladrão.
E o morro não é de ninguém
Na baixada, quem é quem?
Lá no morro tem transparência
E na baixada se vive de aparência
A baixada não é independente,
Com o morro ela faz ligação.
Se na baixada tem gente que pensa
No morro há gente que tem coração...