Ensaio do sertanejo

O aboio do galo e o canto do boi

Refletem na vontade de boiadeiro, boiadeiro que se foi

Foi pra nunca mais,

Em reino de boiada, boiadeiro é rei

Em reino de sertão, lampião é lei

No repique do repente se faz a rapadura,

Doce e dura, como a vida do sertanejo

A sorte cega às vezes esbarra no sertão, revelando-se em cristais d’agua .

O suspiro do mandacaru é ríspido e emotivo,

Da dor se faz a flor, e da aridez, a caatinga multicor

O som do maracatu entoa e se faz cativo

Seus panos mamelucos me encantam e me cantam

Sou o barro de mestre Vitalino

E me esbarro à festa, feito menino

Em são saruê, faço pacto com mãe de pantanha, pra querer e ser

Tremer e padecer.

Me faço pena de asa branca ou goela de sabiá,

Pra no sertão ficar.

A santa no andor nos olha de lado,

Os dedos d’um analfabeto, lê nas mãos do ardor o fado

De equilibrar no lombo suado,

Ou na cabeça díssona, a água, a força.

De deitar na rede, e olha a lua sem parede

De beber na garganta do fosso da cruz,

E de sentir no peito a sede e a luz.

Lucas Guerra
Enviado por Lucas Guerra em 21/02/2015
Código do texto: T5144553
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