Ensaio do sertanejo
O aboio do galo e o canto do boi
Refletem na vontade de boiadeiro, boiadeiro que se foi
Foi pra nunca mais,
Em reino de boiada, boiadeiro é rei
Em reino de sertão, lampião é lei
No repique do repente se faz a rapadura,
Doce e dura, como a vida do sertanejo
A sorte cega às vezes esbarra no sertão, revelando-se em cristais d’agua .
O suspiro do mandacaru é ríspido e emotivo,
Da dor se faz a flor, e da aridez, a caatinga multicor
O som do maracatu entoa e se faz cativo
Seus panos mamelucos me encantam e me cantam
Sou o barro de mestre Vitalino
E me esbarro à festa, feito menino
Em são saruê, faço pacto com mãe de pantanha, pra querer e ser
Tremer e padecer.
Me faço pena de asa branca ou goela de sabiá,
Pra no sertão ficar.
A santa no andor nos olha de lado,
Os dedos d’um analfabeto, lê nas mãos do ardor o fado
De equilibrar no lombo suado,
Ou na cabeça díssona, a água, a força.
De deitar na rede, e olha a lua sem parede
De beber na garganta do fosso da cruz,
E de sentir no peito a sede e a luz.