CÃO
Cão sem rumo errando ao mundo
sem abrigo e cobertor
que agasalhe seus temores
e carências de acalantos
sai correndo atrás do andor
sobre o qual passeia um santo
cravejado de áureos brilhos.
Eis que o andor motorizado
acelera, avança à rua
com seu santo de osso e carne
que se pensa de ouro e chumbo;
pobre cão então desiste
de alcançar o andor de rodas
do tal santo a que ajudou
com martírio de trabalho
a vencer canonizado.
Deita triste e derrotado
num cantinho lá do beco
a lamber feridas, ínguas,
amputado da lembrança
de que um dia já foi gente.