Gerreiros no trem
Estou no trem
Minha espaçonave subaquática
Adentrando na atmosfera freática
Resiliência que se tem
Olhos inchados
Camelôs inflados
Ouvidos em zumbidos
Decibéis de ruídos
Nessa linha férrea
Essa viagem etérea
Marca o início de um dia
De uma vida sem saída
Mutilados em esperanças
Gotejados de fé em mudanças
Grelhados da vida em vapor
Dissecando um sorriso sem sabor
A trajetória desse vai e vem
Risca em rabiscos o caderno,
o diário, desse povo guerreiro
Que se conhece pelos fluidos nesse trem.
Somos solos nesse vagão
Somos astros nesse saguão
Em vácuo insólita imensidão
Sentimento fértil de resignação
Somos viajantes nesse trem
Locomoção para o futuro que se tem
Um futuro que se mostra aquém
Do que um dia se pediu em Amém.
Cada olhar, cada grito
Cada gemido, cada estampido
Declama, chama, proclama
O viés e o revés do indivíduo
Fecho os olhos e ponho os fones
Penso nas noites insones
Nos dias de labuta
E no povo que luta
Para não passar fome
Para ter um abrigo
Que não viaja incólume
Como um guerreiro ferido.
(Marcelo Catunda - 10/12/2014)