À CRIANÇA QUE NASCE AGORA

Tu que nasceste agora,
Vais perceber sem demora,
Que não vai ser fácil viver...
A água que falta aqui,
É a mesma que sobra ali,
Há de ter pouco, pra se comer.

Se tua farinha for pouca,
Hás de ser briguenta e louca,
Pra de fome não perecer...
Mas nessa longa disputa,
Sairás fortalecida da luta
E mais esperta hás de ser.

Nasceste entre aves de rapina,
Porque esta foi tua sina,
Terás de ser como os leões...
Porque aqueles a quem elegem,
Dizem que as pessoas protegem,
Mas são quadrilhas de ladrões.

Vão te dizer, que antes foi pior,
Que o mundo agora é melhor,
Que já se tem penicilina...
Que não há mais tuberculose,
Ela é morta com uma só dose
De remédio ou de vacina.

Te dirão que és protegido,
Que no trabalho és preferido,
Porque tens o sindicato,
Que te garante direitos,
Que poderás com teus feitos,
Ser um cidadão de fato.

Serás elogiado como um bravo,
Mas não passarás de escravo
Do sistema que foi criado...
Trabalharás o ano inteiro,
Mas só parte do dinheiro
Receberás do Estado.

Mas não se desespere, óh criança,
Vão te dar como esperança,
Um mundo com muitas ilusões...
Os joguinhos e amizades do facebook,
Que de certa forma é truque,
Desse cartel de ladrões!