Brasil, venho de lá do mar
Com os braços carregados de esperança,
Que é primavera, e Abril!
Chego com o coração florido de alegria
Desde o cais das Descobertas.
Trago na alma as dores cicatrizadas
De agruras e espoliações
Dos lusitanos de antanho,
Sedentos de pedras e preciosidades
Mas disponho o coração dulcificado
Por mor de diamantes fraternos,
Que elevam, mais do que pesam!
Não se vendem nem compram,
Crescem com a seiva que emana
Da nossa compreensão
Quinhentos e tantos anos de luta
São cansativos mesmo para um jovem
Que contém no seu âmago a força
De todas as cores entrelaçadas
Em sorrisos profusos
como as sombras dos mangais
Sobre rios de águas povoadas de golfinhos brancos
E de sucuris e de piranhas no aguardo,
Mudando de nome conforme os tempos vão mudando
E os senhores dos impérios que todos servimos
Pois nem todo o sangue e suor do esforço colectivo
Chegam para saciar-lhes a fome e manter-nos angustiados.
Continuam armando arapucas sem fim
Nessas terras infindáveis onde a morte
Marca passo nas ruas e o samba escamba num eterno Carnaval
Os esquadrões da morte continuam instalados
E o império continua dividindo as riquezas
Deixando os teus filhos nos labirintos das favelas
Suspensas em ladeiras tão altas
Para onde mais fácil é subir do que descer
Tantos anos de labor contra a cobiça
Na fome forjada da abastança roubada
E gente sem terra no maior país do mundo
Que breve surja o dia, pátria dos meus irmãos
Em que os senhores do costume desçam dos capitéis de ouro
E seja possível a esta sonhadora na barra do Tejo
Seguir enfim o rumo de luminosidades azuis
Para ir ter contigo... sinal que a riqueza do mundo
A deixou enfim fretar um banco na classe económica
Aonde transporte os ossos calcinados e os olhos deslumbrados
De um pequeno país em decréscimo de tudo
Menos de arrogância, de hipocrisia e de poder fictício
Peço a Deus a honra de abraçar em glória
O Brasil que mais merece do que tem:
Sereno bem-estar, em Ordem e Progresso,
Como lhe prometeram mas ainda não cumpriram!