Rostos brancos, pés pretos: você não fica vermelho?
Prosa poética - Lucíola Muriel Quites
Recentemente,
voltando do shopping com minha mãe,
deparamo-nos,
como é cada vez mais comum,
com meninos descalços e tragicamente "maquilados"
fazendo malabarismos sob o sinal de trânsito.
Mamãe comentou, pesarosa:
— “O rosto branco e os pés pretinhos, que dó...”
Talvez ela tenha, logo em seguida,
pensado em outra coisa, ou não.
Eu não consegui pensar em nada diferente daquilo.
As duas crianças, cor de gente,
estavam com o rosto branco como uma máscara de gesso
(o que será que usam? Será que coça, que arde, que é prejudicial à saúde?)
e os pezinhos, no asfalto quente,
tão sujos quanto poderiam ficar,
absolutamente negros.
Fiquei vermelha,
envergonhada por fazer parte desse mundo,
inquieta por fazer tão pouco para mudar essa realidade inaceitável,
indignada por saber que poderia ser tão diferente
se os interesses individuais não prevalecessem constantemente
sobre os coletivos...
Qual será a cor do coração daquelas crianças?
Será que a esperança deles ainda tem cor?
Em algum momento a vida lhes sorri colorida?
Que cor terá nosso futuro?
E fui embora pensando nisso,
pensamentos completamente
em preto e branco...
-------------------------------------------------------------------
Email que recebi de uma amiga.
Achei por bem divulgar, com a permissão da autora,
de Belo Horizonte.
Euna Britto de Oliveira