Morador de rua
 
Ele mora na rua.
Dorme na rua.
Vive na rua.
Vive?
Sobrevive. Escapa.
 
A manta imunda finge de agasalho
ao frio carrasco de São Paulo.
 
A marmita fria finge que alimenta
a fome antiga...
a fome de atenção.
- Também sou ser humano, vivendo como um cão!
 
Abandonado, desprezado,
temido pela população.
Vive na rua. 
Vive?
Sobrevive, escapa. 
Até quando?

Imagem do Google
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Registro aqui, agradecida, a "réplica" com que o Daniel me presenteou nos comentários:

             FINGIMENTOS

Ele mora na minha rua;
Na sua rua;
Na rua de toda São Paulo;
Não mora!
Apenas finge, com sua caixa mal conservada;
Não tem um lar para nos convidar a visitar;
Mas busca sempre estar protegido do frio da noite;
Não, mais uma vez!
Ele finge não sentir frio com a coberta imunda sob os ombros;
Deitado, precisa escolher entre aquecer os pés enegrecidos;
Ou esconder sua face que já desconhece frente ao espelho;
Dia após dia, caminha de pés descalços;
Serve-se de qualquer comida oferecida;
Desculpa! Não é bem isso, não;
São restos que ele finge não possuir odor;
Na boca, disfarça o mau sabor;
E assim engole fingindo que se alimenta;
Não sozinho, é claro;
Conversa muito. Sem parar;
É! Acertou! Mais uma vez finge conversar;
Fala sozinho ao ar e consigo mesmo;
Na nova noite, ele se põe a dormir na paz dos justos;
Menti mais uma vez. Eu sei;
Ele descansa o corpo já cansado, sim;
Mas sua mente e os sentidos continuam ligados;
Busca conservar a vida que uns tentam lhe tomar;
Para amanhã seguir com ela como está;
Não! Ele não a vive;
Simplesmente busca mais uma vez escapar da sua morte.

-Daniel de Santana Pelotti - autor do romance Sob os olhos da Morte e administrador das Páginas do medo, no Facebook e YouTube.
Primavera Azul
Enviado por Primavera Azul em 18/10/2014
Reeditado em 10/02/2017
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