A Morte do Gato
Eu vi um gato morrendo,
Eu vi sua agonia.
Mas eu não pude entender
Do que o gato morria.
O gato morria feio,
seu corpo se retorcia.
Seu gemido macabro
quase não se ouvia.
Deitado numa valeta,
Com os olhos a girar,
Da cor de violeta,
A ponto de estourar.
Passava gente ao lado.
Ninguém, porém, percebia,
Pois era somente um gato,
Sem dono e sem mordomia.
Fosse o gato dum doutor,
Famoso e respeitado,
Mesmo em meio à dor,
Seria paparicado.
Mas era um gato qualquer,
De pobre, maltratado.
Vivera passando fome
E morreria desprezado.
O gato que ali morria
Não era um ser humano.
Porém, na vida e na sina,
Dividira o mesmo plano.
O felino moribundo
Era só um animal.
Mas, no mundo dos viventes,
Bicho e gente morrem igual.