Desencanto

Aprendi a amar certos valores,

Que foram para câmara de gás;

As tintas se separaram das cores,

Pintamos branco, e aparece lilás;

Me perco nesse circo de horrores,

Que cada dia outro número traz;

Entregamos tudo pra amadores,

Sem um, porém, sequer, um mas...

A vistosa escola ensina aos lobos,

Como balir igual às mansas ovelhas,

Prospera junto à omissão dos bobos,

Que carecem de filtros nas orelhas;

Escolhem pelo peso dos arroubos,

Olhos só para decorar sobrancelhas;

Todos os dias, vemos, que há roubo,

Por baixo da suja estrela vermelha...

Cabeças fechadas como um repolho,

Saem pelas vielas arrastando o rabo;

Sua culpa; desejar impor o próprio olho,

Saem mentindo que ervilha é quiabo;

Tentam nos vender seu prisma zarolho,

Como fez no Éden seu mentor, o diabo,

Capricham derramando o seu molho,

pra que compremos sua faca sem cabo...

se dizem trabalhadores sonsas colmeias,

dado não fazerem mel nem mesmo cera;

andando após ao metal e não às ideias,

esses safados empunham as bandeiras;

discursam grandezas às incautas plateias,

que gastam aplausos adornando asneiras,

são efêmeros como as flores da azaleia,

querem que os acreditemos a vida inteira...

as pesquisas relatam esse viés mui raso,

do gênio humano perdendo pro animal;

sem perceber que a bondade tem prazo,

nesse reino, onde o engano soa normal;

se interessam por nós só até ao ocaso,

depois irão sorrir e contar o seu metal,

Seu Brasil já está assentado no vaso,

tudo nos indica que fará uma colossal...