ESPANTO
O que me espanta
Não é só verso, mero lamento!
O que me espanta
São os argumentos.
O que me espanta
Não é só a dor da miserabilidade...
O que me espanta
É a continuidade.
O que me espanta
Não é só o gemido, o corpo combalido
O que me espanta
São os artífícios.
O que me espanta
Não é só a usurpação, o preço do pão!
O que me espanta
É a obnubilação.
O que me espanta
Não é só o óleo perdido no trabalho traído!
O que me espanta
É a dissimulação.
O que me espanta
Não é só a inverdade, a realidade!
O que me espanta
É a precariedade,
O que me espanta
Não é só a tangência da inconvergência...
O que me espanta
É a negligência.
O que me espanta
Não são só meias verdades, as falas fictícias!
O que me espanta
São as verdades inverídicas.
O que me espanta
Não é só a consciência furtada, vilipendiada!
O que me espanta
É a inconsciência plantada.
O que me espanta
Não é só bala perdida, a não alvejada
O que me espanta
É a sina malfadada.
O que me espanta
Não é só a criança abandonada, drogada!
O que me espanta
É a vida desprezada.
O que me espanta
Não é o todo atordoado, qual quebranto!
O que me espanta...
É o todo feito pranto.
É esse o meu espanto!