A Era do Carro de Lixo

Amaldiçoados no veículo imundo

Arrastando as carcaças de bicho ainda vivo

Disputando um ar fétido e remoto

Comprimidos num espaço insalubre e pequeno

Se vão carregados os animais suburbanos

Resíduo escravo de tempos esquecidos

Mantidos a distâncias seguras do luxo e conforto

Espremidos na fossa funda do mais pútrido esgoto...

... Dos bancos, dos ricos

Acomodados, se isolam no carro coletivo

Ruminando aos becos e buracos onde são escondidos

Tão longe do luxo e tão perto do lixo

Ao ponto de aos restos serem confundidos

Tão mais espalhados, quanto mais são removidos

Pela lixeira móvel aos lixões do inferno

Onde são reciclados, reutilizados, destruídos

Nos moinhos da História, no incinerador do tempo...

... Dos bancos, dos ricos

... Dos BRANCOS, dos ricos...

E, como restos de um nada, sem passado ou futuro

Eternamente bóiam no sepulcro móvel do destino

Já predestinados a cumprir o mesmo roteiro

Cochilando a ira e o cansaço naquele assento duro

Amortecendo os desgostos, bajulando os ricos

Que desfilam soberbos em naves velozes logo ali ao lado

Alegres e serenos, seguros, admirados

Alheios àquele lento e suado depósito humano

Onde amontoaram o subúrbio para conduzi-lo ao trabalho...

...E ali, pretos de todas as cores, destinos e lugares

São levados e trazidos do labor para o ócio

... E ali, POBRES de todas as cores, idades e tamanhos

São levados e trazidos do labor para o ócio...

... Para lutar para enriquecer os bancos já ricos

Aprendendo a conviver com o próprio sofrimento

E se refugiar na fé, no prazer e nos vícios

E nascer, trabalhar e morrer sonhando ser BRANCOS

Para sempre se maldizer por ter nascido preto

E, imóveis, permanecer no lento carro-do-lixo

E talvez jamais perceber que ainda há tempo...

De mudar esse rumo!

Demofobo Santos
Enviado por Demofobo Santos em 25/08/2014
Reeditado em 25/03/2015
Código do texto: T4936176
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.