O OBSTINADO

O OBSTINADO

Obstinados guerreiros,

buscam no interior de si mesmos ou em corpos alheios explicações sensatas.

A luta é longa,

a trégua não existe,

e a necessidade é imediata,

alguns fortes e verdadeiramente obstinados,

outros fracos,

que nem de guerreiros jamais mereceram ser chamados.

A pior das piores,

dona de inúmeras facetas,

a falsidade dos homens,

ou delas com suas esculturais silhuetas.

Oh pobres de espíritos...

Aqueles que não fazem por onde manterem-se em continua transformação, aqueles que como casulos jamais serão borboletas.

Já os voadores mentais para esses não existem limites,

a sabedoria existe e se faz presente de forma singela e sutil,

aos que a percebem de forma bruta e nociva,

aos ignorantes, ignóbeis mil,

não por desprovidos de formação acadêmica,

mas pela condução sempre negativamente polemica,

pelos maus tratos que tendem a oferecer aos seus,

pelo desconhecimento dos sentimentos mais belos.

Eu sinto que não sou ao peito somente verde e amarelo,

sou também vermelho e preto,

sou África,

sou pan africanista,

defensor dos negrinhos onde quer que estejam,

favelados, oprimidos, raras vezes reconhecidos como existentes,

quase sempre meros sobreviventes da nossa guerra fria latino americana,

da nossa batalha preconceituosa e desumana.

Percebo os focos que descarrilaram nosso trilho,

percebo não o mar vermelho,

mas um bosque verde,

onde nas matas adentraríamos em regresso as nossas origens,

percebo parte do nosso continente ainda virgem,

percebo nossas usurpações eternizadas,

sinto o cheiro da apropriação branca desordenada.

Olhamos para trás pra frente e para os lados,

vemos ao menos em presente e passado,

nossas mulheres violentadas,

nossos direitos sempre cerceados,

numa reação agressiva seria chamado de sociopata.

Ah pensamentos internalizados...

Vejo bosques, campos, pastos,

vejo os bantos, os sudaneses também,

vejo a diáspora um pouco mais além.

Vejo além dos interesses dos nossos algozes

muitas vezes eleitos para representar nossas vozes,

diante de tanta dor fica a angustia,

fica a sensação de impotência,

fica a frustração pela não intervenção direta

diante de tanta violência, fome, miséria e assolação de viroses,

muitas vezes encomendadas a nós

despejadas no nosso solo,

como se animais fossemos, de criatórios passivos a experiências.

Não!

Não quero mais os discursos revolucionários,

não aceito mais os diálogos brandos brancos desnecessários,

por favor, não me convidem utilizando a palavra articulação.

Sou preto consciente não marionete meu irmão,

sei o que quero como quero e o que espero,

não sei classificar como viável ou utópico,

como sutil e facilmente organizável

ou como simplesmente inviável.

Arrancaram nossas cabeças, t

udo nos retiraram menos a nossa alma,

os nossos valores contidos nos Orís de todos os irmãos.

Cada Orí só sonha um sonho,

nossos orís juntos não sonham,

realizam revolução com propriedade e verdade,

usando a nossa revolta como cartão de identidade.

Ah quanto coisa a se pensar quando a cerca dessa questão....

Não sei nem se penso com a lógica ou com o coração,

já não sei separar as magoas, o ódio, a revolta e a dor,

já não sei como fazer os meus esquecerem o ardor da chibata,

os traumas dos estupros,

ainda preciso ouvir que o “problema não é racial é social”,

ou absurdos maiores como “os pretos são bem mais racistas e auto-preconceituosos do que nós”.

Estamos no sec. XXI e ai?

Às vezes busco condições textuais bonitinhas e ordenadas

que me arranquem sorrisos de satisfação e elevem o auto-ego,

mas em momentos como esses nem me apego,

apenas deixo a revolta se transformar em palavras,

não consigo sentir o ouvir das risadas,

as lagrimas tem maiores possibilidades de se aproximarem,

choro, derramo sem vergonha nem preocupação com a visão alheia,

Importa-me a visão dos meus,

do exercito de guerreiros,

dos ferrenhos combatentes,

mas não dos demagogos,

esses demagogos enganando sempre seu próprio povo,

retirando dos cofres públicos sem a verdadeira partilha fazer

sem ofertar o que de fato foi se proposto,

provocando em todos nós menos ignorantes

uma grande sensação de desgosto.

Leve pelo desabafo,

triste pela realidade existente,

mas esperançoso sempre,

afinal, Zumbi e Dandara,

esses não rangeram os dentes

diante dos senhores que insistiam em domesticá-los.

Serra da barriga e diversos outros quilombos foram criados,

poucos carregam o peso de conhecerem

o que de fato enterrou-se sobre seus históricos escombros,

hoje as penitenciarias e as favelas,

eles nos trocaram de lugar,

mas não deixaram de nos ofertar suas mazelas

e quando negados a permanecer entre as grades

os nossos batem de frente com os grupos de extermínio

com toda sua maldade,

cruéis e covardes...

E dizem ainda em rede televisão;

- Mostra cara dele ai, esse pretinho é ladrão!

Programas sensacionalistas,

verdadeiros buracos brancos no nosso sistema jurisdicional,

pra julgar um pretinho da periferia utilizam as chamadas jurisprudências (conjunto de definições e interpretações das leis)

onde eles teimam em nos dizer:

- Nós sempre foderemos vocês!

Conseguem ate colocar

Nós contra nós mesmos,

esse êxito e esse ciclo execrável,

precisam ser estancados da nossa historia,

haja visto que temos mais que sofrimento,

temos muita gloria ao longo de nossa trajetória,

temos um legado ancestral imensurável pra retransmitir aos nossos,

temos dever e compromisso em jamais permanecer na covarde condição de omissos .

Sejamos do movimento negro

ou simplesmente negros em movimento,

mas negros a todo e quaisquer momento,

sempre juntos e misturados ate depois do final

sem trairagem nem pagação de pau.

Chega de corpos e mentes negras vendidas por cargos comissionados, façamos nós mesmos a eles o nosso embargo.

Sergio Badbah
Enviado por Sergio Badbah em 24/08/2014
Código do texto: T4934673
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