A pedra no telhado de vidro

Porque me olhas, com esse olhar de peixe morto?

Se nem o morto sabe que peixe ele é.

Para que serve brigar ao construir coisas,

se nesse mundo nada ficará em pé?

De tão dura, a pedra é um coice de cavalo,

trinca e o pescoço fica torto, mas não quebra.

O corpo é duro na queda e tem nervos de aço.

Muito mais frágil que segurar o cavalo pela crina,

vai ficando por trás da cortina como se fosse um palhaço.

Cai do cavalo e se ferra, descendo ladeira abaixo,

pois queria ser pedra e isso era o seu ideal.

Querendo quebrar a gente, dura sempre e tão contente,

sentia-se como a dona do lugar.

Uma arrogante e matreira, na morte derradeira e dura de se quebrar.

Mas outra pedra bandida, fez quedar a sua vida,

quebrando em pedacinhos, sonhos imbecis pelo chão.

Quando a pedra ali bateu, nunca mais quis ser martelo,

flecha, arpão ou nenhum míssil.

Com seus pedaços de vidro quebrados no seu telhado,

desceu pelo precipício e a vida ficou difícil.

Quem quer ser apenas martelo, tratando os outros de pregos,

um dia vai esquecendo que seu telhado é de vidro,

enveredando nas sombras os seus milionários anéis,

esquecendo que das outras pedras, cantadas por menestréis.