Sesta Operária

Os operários se deleitam na sesta,

esparramados no banco duro do vestiário,

olham para o teto adornado de teias,

mastigam palitos de dente e palitos de orelha,

contemplam seu momento a sós, opulento,

cada qual em seu uniforme amarrotado,

sujo e suado, parecem bem amados, estão felizes.

Uma piada se ouve lá no fundo,

um apelido que ficou subentendido no bater de portas,

armários numerados. Operários numerados.

Uma grande aventura em oito horas.

Faz um calor insuportável,

os pés, diminuem dentro das botas. Envelhecem.

A sesta prossegue tranqüila e alguém saca um radinho de pilha,

estação AM, música caipira. Outro casa um cigarro.

Sabe, isso é uma festa silenciosa.

Olha! Dizem que o mundo irá acabar,

Nibiru que chega ou explosão nuclear.

O mundo deles não termina, é outro, é mais simples,

o pequeno mundo dos homens operários.

Esse mundo irá girar pra depois de 2012, a data fatídica,

e pra depois da Copa da África. Lá tem outros operários,

tribos, magnatas, cada qual com seu prazer, um deles a sesta,

de múltiplos e rápidos sonhos.

O operário sonha modestamente,

quando sonha alto, joga na Mega Sena,

sonha com a prestação, reza pela conta em dia. Reza muito.

Sua fé, inabalável. A miopia, é quase uma bênção.

Hora de voltar pro batente.

Ricco Salles
Enviado por Ricco Salles em 05/08/2014
Reeditado em 09/07/2018
Código do texto: T4911300
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