Poema: A Metáfora do Poeta
Poeta é quem tem na cabeça a porta que a parede escora,
abrindo as comportas fechadas das loucuras de Nero.
Dentro da noção incomum, enfia as coisas mais comuns,
vendo tudo assim bem claro, mas jurando que não viu,
faz renascer em suas obras o dom da eternidade,
pois de fora para dentro, vê de dentro pra fora.
Fala de amantes, daquelas que foram embora,
Fala com a cara envergonhada e gentil esmero,
Fala das paisagens escuras nas almas de alguns,
Fala da herança da infância que a vida permitiu,
Fala da tristeza, com a maior sinceridade,
Fala da louca alegria, que quase nunca aflora.
Escuta o silêncio da vida no barulho de agora,
Escuta o som do passado, ignóbil e não sincero,
Escuta os pássaros, com os seus cantos incomuns.
Escuta as histórias reais da ficção que existiu,
Escuta o povo, cada vez mais mudo na adversidade,
Escuta a solidão das almas, e joga nas letras mundo afora.
O Poeta escuta de fora pra dentro,
depois mete as suas ideias de dentro para fora.
Se tira de dentro pra fora, ou se mete de fora pra dentro, não importa,
pois o Poeta é o resultado apenas da sua própria metáfora.