Também quero foder...
[não é erótico, é pornográfico por ser sub-humano]
... com a raça que faz trapaça
com homem puto e enganador
com lei que só faz desgraça
nas favelas com seu fedor
quero foder com a fome cretina
que se apresenta na barriga inchada
que encaminha a pobre puta pra esquina
e com os exploradores de fachada
quero foder com a raia graúda
que manda e desmanda na bala
quero foder com a raia miúda
que apanha e morre na vala
quero foder com a raposa que pega
a galinha do quintal do vizinho
com quem só mente e nega
e ainda se faz de bonzinho
quero foder com o subalterno
que arrota azeda mortadela
dos que não têm sapato e usam terno
e chutam mulher e batem nela
quero foder com o submundo
com o clã que explora criança
com esse monte de vagabundo
que só vive de putaria e festança
quero foder com o salário de fome
com o ônibus, metrô e os buracos
com covarde que não é homem e some
com os que vivem de vender barracos
quero foder na espera do aeroporto
enquanto fico no chão deitada
vendo estragar órgão de morto
pra outra vida ser ceifada
quero foder com tanta coisa triste
que passaria mais de mil anos fodendo
mas justiça tem peso que não existe
e só flutua ao lado de quem tá podendo.
(ou seria fodendo?)
Maria Quitéria
Um texto de guerra, a ser lido:
"Eu quero foder foder
achadamente
se esta revolução
não me deixa
foder até morrer
é porque
não é revolução
nenhuma
a revolução
não se faz
nas praças
nem nos palácios
(essa é a revolução
dos fariseus)
a revolução
faz-se na casa de banho
da casa
da escola
do trabalho
a relação entre
as pessoas
deve ser uma troca
hoje é uma relação
de poder
(mesmo no foder)
a ceifeira ceifa
contente
ceifa nos tempos livres
(semana de 24 x 7 horas já!)
a gestora avalia
a empresa
pela casa de banho
e canta
contente
porque há alegria
no trabalho
o choro da bebê
não impede a mãe
de se vir
a galinha brinca
com a raposa
eu tenho o direito
de estar triste"
Adília Lopes, in Obra, Mariposa Azual, Dezembro de 2000