Monocromático
sai da parede, do concreto e anda.
e senta.
como anda e como senta o monocromático,
em seu tão, porém não único,
fantástico mundo cinza.
mas outro corre ingênuo pelo asfalto:
- olha o pé monocromático.
olha o teu pé do ouvido,
que num dia vermelho desses,
tão corrido,
tu pode virar raspa de umbigo ruborizada.
e como tem umbigo o monocromático,
mas só se vê a sujidade.
- perdoe monocromático.
perdôo tua índole, tua fome de enjôo,
teus pés descalços lodacentos,
de couro grosso verde cinzento
sem pejo,
mas devaneador.
- pra calçada sem monocromático.
aqui andam os pálidos,
comedores de açafrão,
áridos,
carregados de ouro,
muito mais louro o fulvo
que o monocromático.
e que cor tem tua vida monocromático?
saindo da incerteza de seu enxergão,
fausto subtraído
da própria ostentação.
afinal sinônimos têm a mesma cor.
o monocromático é cor que não se nota,
plano de fundo de uma grande objetiva.
monocromático não tem cor nenhuma,
nem de cera, nem de unha,
é abstrato.
fictício
sáurio da metrópole.
só lhe falta a envergadura de ferro
areia, cimento e cascalho.
monocromático, o monocromático já é.
na carne viva,
nos parasitas,
na única cor que não vemos:
o branco azulado de sua inocência.