NÃO POSSO VIVER ERRANTE
Enquanto a cidade dorme
Aqui fico, abandonado
A chuva molha meu rosto
Intensifica o desgosto
De viver sempre isolado...
Tantos sonhos que sonhei
Hoje não fazem sentido
Escorrem como a enxurrada
Como a chuva na calçada
Para algum rio poluído...
Não há estrelas no céu
Nem brilho dentro de mim
Nesse mundo que é tão duro
Vejo só o lado escuro
Pois a vida quis assim,
Que eu vivesse aqui, à margem
Do que chamam sociedade
Sofrendo meu sortilégio
Distante do privilégio
De outros da minha idade.
Queria ir para a escola
Mas não tenho identidade
Sou só "menino de rua"
Com a mente triste e crua...
Um pária, na sociedade...
Quem foi que me fez assim?
A resposta todos têm
Porém quem me fez se esconde
E quem sabe, não responde,
É conivente também...
Continuo sob a chuva
Para esfriar a cabeça
A água que cai no corpo
Não lava o estigma torpe
Que trago, mas não mereço.
Quem sabe um dia a justiça
De Deus Todo - Poderoso
Revele aquilo que sou
Que em vão aqui não estou
Que sou alguém valioso.
Pois se até um grão de areia
Prá uma duna é importante
Eu que sou Seu filho amado
Que por Ele fui criado
Não posso viver errante!