Navio Negreiro

A noite mais longa da história,
Nossos ancestrais que sobraram
Puderam-nos contar,
Ouviam-se urros de guerra
E o navio abarrotado a zarpar.
Sem saber o que os esperava
Nas longínquas terras do além-mar.
Uns se enforcavam e outros diziam:
Este navio precisa naufragar.
O olhar distante, sem esperança
Com a alma aflita a vagar
Só restavam as lembranças,
Da boa terra e do bom lugar.
Usaram o nosso cancioneiro
Para suas vidas alegrar.
Por crueldade fizeram
Nossos filhos prisioneiros
Sem crime a pagar.
Construindo posses nesta terra
Como escravos a trabalhar
Estrangeiros que chegaram
Fizeram usurpar
Por medo que fugíssemos
Tomaram precaução
Por salário os cacetes
Com correntes, canga e ferro,
Amarram pés e mãos.
Mais de quinhentos anos se passaram,
Os marginalizaram por gerações,
Podem o negro encontrar
Nas favelas a habitar,
Deram-lhes cestas básicas
Para suas vozes calar.
Espoliaram tudo, puderam constatar,
Mas jamais serão livres,
E felizes sem restaurar.
Magnífico brado de vitória,
Está próximo de acontecer.
Não se prende com corrente,
O que o povo escolher.
Não é racismo inverso,
No esplêndido universo
Pela justiça de Deus,
Sem nenhuma primazia,
Cada um tem sua vez.