Filhos do abandono
Nascemos num país
cujo maior orgulho já foi o futebol.
Mas já foi.
Somos mais devastadores que furacão,
maremoto, terremoto.
Somos terríveis
e herdamos a incrível vocação
para a destruição.
Destruímos a educação,
internamos a saúde
e num ataúde,
depositamos a esperança.
Não temos creches
e sim orfanatos, manicômios
e muitos, muitos demônios.
Casas de detenção,
campos de concentração,
sem guerra oficialmente declarada,
mas para alguns,
a prisão,
é um confortável escritório
de transações.
Somos a vergonha,
que de tão envergonhada,
resolveu mudar de nome
e agora se chama DESONRA,
mas foi ela quem levou
a honra do professor
que pregava o patriotismo,
até que o seu lirismo passou,
quando a fome chegou,
porque seu salário atrasou
e ele comeu a merenda
que era destinada ao aluno,
que com fome também sumiu.
Partiu,
porém sem saber ler e escrever,
tornou-se representante de vendas
do pó e seus derivados,
que não exigem a leitura
da bula.
Nascemos no país do pula-pula,
onde tudo é brincadeira
e algumas, infelizmente são
de extremo mau gosto.
Mas relaxe:
talvez não morramos de desgosto
e sim de bala perdida.