COMIDA



   Cheguei do roçado
   Suado, "zuado", zangado
   O corpo cansado
   Em vez de caça, fui caçado
   Nada no bornal
   Na despensa, farinha e sal
   
   Virei bicho, xinguei
   Fiz um carnaval

   Aí a mulher me disse
   Com carinho:
   Calma benzinho
   O filho menor falou:
   Pai, quer colinho

   Então me acalmei
   Os dois abracei
   Pensei: amanhã, ou depois
   Será bem melhor
   Pois Deus é maior
   Não abandona sua prole
   Pedi água, bebi de um gole...
   Adormeci, ali mesmo na cadeira

   Quando mudei pra esteira
   Tinha sonhado um bocado
   Uns sonhos muito engraçados
   Sonhei até, que era estudado
   Que era poeta...

   Mas, estava com fome


   S. Paulo, 23/08/2007

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