Coágulo
Todos ouvem
a incisiva permanência
do atrito entre chão e cosmos.
Salvo o flautista ambicioso que
se faz, por vezes, surdo
dentro do tumulto absurdamente alarmante
nesta cidade ambidestra
feita de honestidade perdida
e de desaforos velozes
estanca um sol
amarrado
ao meio dia
como um castigo
habitam em sussurros ácidos
serpentes sucessivas sem sono
sem sossego na
exatidão do cronômetro
a rua organiza-se
indiferente
como uma bolha genérica
de gente, suor e vozes;
plaquetária;
feito o implícito eclipse
na faixa de pedestre:
sombra humana em ebulição
fundida acidentalmente
e na penumbra, arbitrário,
o vendedor de sanduíches
disputa berros na garganta
única formada no semáforo,
sem perder tempo ou boca