Coágulo

Todos ouvem

a incisiva permanência

do atrito entre chão e cosmos.

Salvo o flautista ambicioso que

se faz, por vezes, surdo

dentro do tumulto absurdamente alarmante

nesta cidade ambidestra

feita de honestidade perdida

e de desaforos velozes

estanca um sol

amarrado

ao meio dia

como um castigo

habitam em sussurros ácidos

serpentes sucessivas sem sono

sem sossego na

exatidão do cronômetro

a rua organiza-se

indiferente

como uma bolha genérica

de gente, suor e vozes;

plaquetária;

feito o implícito eclipse

na faixa de pedestre:

sombra humana em ebulição

fundida acidentalmente

e na penumbra, arbitrário,

o vendedor de sanduíches

disputa berros na garganta

única formada no semáforo,

sem perder tempo ou boca

Heitor de Lima
Enviado por Heitor de Lima em 20/04/2014
Reeditado em 14/07/2014
Código do texto: T4775503
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