Olhos
Ora, se olhos répteis absorvem,
aturdidos, do incolor caminho arcaico
malditas inferências que comovem
e afirmam seu inconsciente laico
que há de vida nestes olhos ?
vida nula destes olhos
olhos gangrenados do corpo inanimado
cidade verticalizada de olhos aterrorizados
televisionados
debruçam, sim, hipóteses faraônicas
ou desnudas lembranças abstratas,
olhos que enxergam quedas icônicas
(na mente) buracos, grutas, abismos e cascatas
que há de vida nestes olhos ?
vida rouca nestes olhos
olhos análogos ao discurso cínico
que prepara o cimento assimétrico
da chaga gravitacional da incompetência
em que se encontram os olhos políticos
olhos indigentes, quase públicos
olhos de carnificina mental
Olhos de gente cansada
que chora e que respira fundo
e que fecha os olhos
que há de vida nestes olhos ?
apenas o medo.