Olhos

Ora, se olhos répteis absorvem,

aturdidos, do incolor caminho arcaico

malditas inferências que comovem

e afirmam seu inconsciente laico

que há de vida nestes olhos ?

vida nula destes olhos

olhos gangrenados do corpo inanimado

cidade verticalizada de olhos aterrorizados

televisionados

debruçam, sim, hipóteses faraônicas

ou desnudas lembranças abstratas,

olhos que enxergam quedas icônicas

(na mente) buracos, grutas, abismos e cascatas

que há de vida nestes olhos ?

vida rouca nestes olhos

olhos análogos ao discurso cínico

que prepara o cimento assimétrico

da chaga gravitacional da incompetência

em que se encontram os olhos políticos

olhos indigentes, quase públicos

olhos de carnificina mental

Olhos de gente cansada

que chora e que respira fundo

e que fecha os olhos

que há de vida nestes olhos ?

apenas o medo.

Heitor de Lima
Enviado por Heitor de Lima em 19/04/2014
Código do texto: T4774311
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