Poema Metropolitano
Quando na via dupla de meus olhos irrompe
uma avenida às esquerdas e direitas
das esquinas frias, abatidas,
das encostas cinzas
com trajetos geométricos sem espaço sentimental.
Leva seus automóveis gastos,
monstros metálicos
em tapetes pretos,
e seus corpos trotam infelizes
em calçadas curtas e ineficientes.
Fumaça e gritos!
Espalham-se nas janelas e nos fios dos postes,
nos muros furados pela agonia,
nas praças empalidecidas,
sem pássaros ou bancos,
nos escritórios esquecidos dos infinitos centros comerciais
que sequer sabem que existem.
A cidade transpira subprodutos do desprezo.
Mas que vida claustrofóbica e sem vida!
que a vista percorre as obras primas
da solidão dos que não vivem;
algumas tensas casas
nos bosques favelados
sentem-se distorcidas,
imensos pilares de concreto
com suas vidraças espelhadas que refletem ironia,
dividem o céu com poucas nuvens estilhaçadas,
espiam a espartana rotina de tudo
descascados e sem vida, rotina sem vida, própriamente dita.
Uma massa de sombras caminha triste em rotas desesperadas,
com ouvidos cheios de lixos sonoros,
praticam passos espaçados junto com seus ponteiros, entretidos, e gritam:
-Estou atrasado!
Heitor de Lima