Poema Metropolitano

Quando na via dupla de meus olhos irrompe

uma avenida às esquerdas e direitas

das esquinas frias, abatidas,

das encostas cinzas

com trajetos geométricos sem espaço sentimental.

Leva seus automóveis gastos,

monstros metálicos

em tapetes pretos,

e seus corpos trotam infelizes

em calçadas curtas e ineficientes.

Fumaça e gritos!

Espalham-se nas janelas e nos fios dos postes,

nos muros furados pela agonia,

nas praças empalidecidas,

sem pássaros ou bancos,

nos escritórios esquecidos dos infinitos centros comerciais

que sequer sabem que existem.

A cidade transpira subprodutos do desprezo.

Mas que vida claustrofóbica e sem vida!

que a vista percorre as obras primas

da solidão dos que não vivem;

algumas tensas casas

nos bosques favelados

sentem-se distorcidas,

imensos pilares de concreto

com suas vidraças espelhadas que refletem ironia,

dividem o céu com poucas nuvens estilhaçadas,

espiam a espartana rotina de tudo

descascados e sem vida, rotina sem vida, própriamente dita.

Uma massa de sombras caminha triste em rotas desesperadas,

com ouvidos cheios de lixos sonoros,

praticam passos espaçados junto com seus ponteiros, entretidos, e gritam:

-Estou atrasado!

Heitor de Lima

Heitor de Lima
Enviado por Heitor de Lima em 19/04/2014
Código do texto: T4774274
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