LOBO DO MAR

LOBO DO MAR

Carmo Vasconcelos

Lobo do mar, boca de sal, olhos de céu,

alma indomada, revoltosa como o vento,

seu lar incerto o vasto oceano que escolheu,

seu leito a espuma entre lençóis de firmamento.

Seu pertinaz desejo, sempre o de ir além,

dar alma e voz a um sonho louco de conquista,

ser mais do que um, e não bastar-se deste aquém,

rasgar mil mares doutros mundos que ele avista.

Cada largada, de olhos de água a transbordar,

sangue vadio, coração solto, alma inconstante,

é fome e sede de distância, pra amainar

essa ansiedade que corrói seu peito errante.

E em cada porto uma sereia, taça estonteante,

de corpo lânguido, sabor a doce mosto,

é paz e brasa de lareira confortante,

onde derrete o sal amargo em fogo posto.

Lobo do mar, de pés em terra a contragosto,

é como peixe fora d’ água a estrebuchar;

triste gaivota, presa em grades de desgosto;

asa quebrada que pranteia seu dantes voar.

***

(In Antologia da Associação Portuguesa de Poetas – Ano 2005)

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Lisboa/Portugal

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Carmo Vasconcelos
Enviado por Carmo Vasconcelos em 17/04/2014
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