LOBO DO MAR
LOBO DO MAR
Carmo Vasconcelos
Lobo do mar, boca de sal, olhos de céu,
alma indomada, revoltosa como o vento,
seu lar incerto o vasto oceano que escolheu,
seu leito a espuma entre lençóis de firmamento.
Seu pertinaz desejo, sempre o de ir além,
dar alma e voz a um sonho louco de conquista,
ser mais do que um, e não bastar-se deste aquém,
rasgar mil mares doutros mundos que ele avista.
Cada largada, de olhos de água a transbordar,
sangue vadio, coração solto, alma inconstante,
é fome e sede de distância, pra amainar
essa ansiedade que corrói seu peito errante.
E em cada porto uma sereia, taça estonteante,
de corpo lânguido, sabor a doce mosto,
é paz e brasa de lareira confortante,
onde derrete o sal amargo em fogo posto.
Lobo do mar, de pés em terra a contragosto,
é como peixe fora d’ água a estrebuchar;
triste gaivota, presa em grades de desgosto;
asa quebrada que pranteia seu dantes voar.
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(In Antologia da Associação Portuguesa de Poetas – Ano 2005)
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Lisboa/Portugal
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