Canção do Facebook
Canção do Facebook
A Zuckenberg, Saverin, Moskovitz, Hughes e Winston Smith
“O olho do homem serve de fotografia ao invisível, como o ouvido serve de eco ao silêncio” Machado de Assis.
1.
Após a leitura duma frase feita
O impulso de apertar o botão curtir,
E ao olhar num ato de quem espreita
As fotos da viagem à Índia, do faquir,
Ou os álbuns de moças, a suspeita
Dum ato de voyeur, dum falso vizir,
Ou ainda mostrar o meu mais novo look,
Eis as mil maravilhas do facebook!
2.
Muito preocupado está o caro Snowden,
Existem olhares ocultos atrás
Das janelas, perscrutando já meu modem,
Meus amigos, meus contatos, minha paz...
Amigos virtuais, ex-colegas que não têm
Nem mais lembranças de mim! E o que se faz
Nesses casos é adicionar ao batuque,
Compartilhar a vida no facebook!
3.
É preciso pôr alegria no perfil,
Convidar amigos aos aplicativos,
Mostra-se tudo, o tombo que alguém viu,
O banho, a rua, o quarto, tudo sem crivo,
Mensagens de amor, o fundo do barril,
A digital, o cão, o gato, a diva,
A frase de auto-ajuda que nos eduque,
Ou deseduque, eis a moral do facebook!
4.
Cabeça cortada, mãe amamentando,
Tem lá Instagram, Netflix, Skype, Whatsapp,
Assinar, seguir, sei lá o que tá rolando,
Mil eventos, passeatas, não há o que escape...
Meu velho Mallarmé, o Mundo girando
Não existe pra entrar num livro; Ó naipe
Augusto, nem pra passar na TV, o truque
É que o Mundo é pra postar no facebook!