Paulista e Baiano
Sou e sempre serei cria de dois mundos a parte.
Nasci na conurbação da capital São Paulo, em São Bernardo do Campo. Moro em Ribeirão Pires, cidade vizinha a Mauá onde moram muitos dos meus parentes. Mas vivo passeando em Santo André. Sou cria das metrópoles, das cidades grandes, do metrô lotado e da condução atrasada, dos moradores de rua pedindo um trocado e das pessoas indiferentes, apressadas, dos diversos cães abandonados, da brutalidade de homens e mulheres não tão cosmopolitas como nossos centros, como nossos prédios, prédios e mais prédios.
Tenho sangue de tudo que é a cara do Brasil. Meu pai, típico paulista: descendente de italianos e portugueses, um homem de meios e fins, técnico e capaz. E minha mãe, baiana, nordestina, tão acostumada aos preconceitos daqui, carrega nas veias o sangue de índios, de negros, de portugueses ou italianos (ninguém sabe ao certo). Me acostumei e gosto da ideia de ser esse vira-lata, afinal todas as minhas descendências são tão antigas que já não significam nada (e é bom que seja assim).
Sempre viajei a Bahia, ia pra fazenda de meus avós, conhecer e visitar parentes distantes no sangue e na localidade. Gosto do caos ordenado da metrópole, gosto do urbano sombrio, mas gosto igualmente da Bahia, de ir pra Fazenda Alegria conversar com o velho Rufino e suas histórias antigas, antiquíssimas, terreiras, das trilhas do bosque batidas pelo gado e os outros animais, de cavalgar com meus primos, do banho no rio e lagoa, do umbuzeiro, de derrubar colmeia de europeia pra tomar o mel, do cardeal-do-nordeste cantando na janela leste do casarão...
Apesar da ausência de eletricidade em todos os sentidos, a Bahia sempre me causou um choque: Que realidade fascinante e oposta! Me desconstruía lá, me redescobria como um "bandeirante cangaceiro", um aspirante a aventureiro... E o quão bem isso me fazia!
Sou, e sempre serei cria destes dois lugares, e mesmo quando todas as raízes lá findarem, cá estarei para honrá-las. Sempre.