Infância Perdida
Um menino guenzo
Sustenta em seu ombro
Outro moleque mirrado.
Desafiam a gravidade,
De tão magros que são.
_Meus senhores,
Prestem atenção!
Minhas senhoras,
Não sou ladrão.
Só estou aqui
Pra mostrar o aprendi.
Do alto de suas magrezas,
Equilibram-se em finas pernas
E, com dois malabares
Fazem oscilar um terceiro.
Direita, esquerda...
Um giro duplo no ar.
Passa por baixo da perna,
Dá meia volta
Em torno de si mesmo.
O público impaciente,
Aguarda pela luz verde;
Nem liga pr'as suas meninices,
Pra fome que lhes corroem
As suas barrigas murchas.
O dia chega ao fim,
Mas o trabalho não pára
Agora com fogo nas pontas
A miséria fica mais clara
Gira o fogo no ar
Meia-volta e tudo mais
A desatenção é a mesma
...Tanto faz.