Claudicante

Quanta escuridão.
Quanta desilusão.
A tristeza de se morrer assim.
Inexplicavelmente.
Vítima óbvia do descaso e
do capitalismo,
da política assistencialista.

O pecado de Cláudia
foi ser manca na vida.
Claudicou ao
dobrar aquela esquina.
Trazia um copo de café preto
ainda quentinho...

E então fora alvejada.
Tiraram sua vida.
Com a precisão
cruel de dois tiros.
Atravessaram-lhe a vida
e subtrairam a dignidade
de seu cadáver.

Ficaram oito filhos.
Ficou o marido.
Ficaram os olhos incrédulos
diante da tragédia cotidiana.
Ficou na mídia.

Todos ficaram órfãos
A vizinhança que gritava
explicações
em seu português empobrecido
mas urgente...
Ninguém a ouviu.

Quem ouvirá esses ecos?
Quem acenderão as velas?
Quem socorrerá esses peões
derrubados no tabuleiro
da mísera explícita.

Nesse jogo de reis
onde os peões
são descartáveis.
E, a nobreza se farda
de vergonha.


Quantas Cláudias ainda precisam existir?
Quantos Amarildos?
Quantos desaparecimentos e mortes
nas estatísticas solenes
ainda aparecerão e se multiplicarão
até que alguém se comova
para além das lágrimas.

Quais eram seus sonhos, Cláudia?
Todos foram interrompidos.
Evaporaram-se e habitam agora as nuvens
Que castradas fogem até agora
de toda essa brutalidade.

Dissiparam-se humilhadas por
estarem simplesmente
sobre cabeças humanas.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 20/03/2014
Reeditado em 20/03/2014
Código do texto: T4736937
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.